Durante a minha fase dourada de infância o que mais gostava de fazer era jogar botão. Lembro-me dos campeonatos que eu mesmo organizava na rua em que morávamos. Formávamos uma equipe de seis garotos apaixonados por jogar botão entre outras coisas.
Os fins de semana eram para jogar botão ou para jogar as peladas de rua.
Cerca de oito quarteirões de nossa casa havia um pequeno bazar que vendia, entre outras coisas, times de futebol de botão modelo canoinha. Bem, pelo menos este era o nome dos botões que nós conhecíamos.
Ninguém se importava muito com as regras. Valia chutar de qualquer lugar para tentar fazer o gol.
Quando me lembro dessa época dá saudades. Com o passar do tempo perdi o contato com a galera da época. Cada um foi pegando seu caminho na vida e acabamos seguindo rumos diferentes. Porém, sabemos que o tempo não volta e precisamos prosseguir na estrada da nossa vida.
Fiquei vários anos sem jogar botão. Mergulhei em meu trabalho, constituí uma linda família, fiz novos amigos com quem passei também a dividir minha vida, meu espaço e meu coração.
Voltei a jogar botão quando meu filho Ariel se interessou pelo jogo. No começo era fácil ganhar do garotão. Contudo, com o passar do tempo ele foi se aprimorando e dando o maior sufoco em seu velho. A minha sorte é que ele se tornou um grande músico e deixou o futebol de botão. Certamente ele me superaria rapidamente. Já a minha pequena Stela nunca se interessou pelo esporte. Ela se tornou uma ótima professora de inglês, além de cantar muito bem ao lado do irmão.
Cerca de um ano atrás formamos o Jabulani futebol de mesa na cidade de Jaboticabal, época em que voltei com tudo para uma de minhas paixões que é jogar botão.
No começo éramos cerca de dez pessoas e alguns curiosos. A grande maioria não jogava botão e alguns se quer haviam segurado uma palheta.
Não demorou muito para o grupo crescer e se tornar cerca de dezenove atletas entre adultos e juniores que amam jogar futebol de mesa semanalmente. Porém, a coisa se tornou séria e os troféus de hoje são lindos e incentivam a jogar.
Foram vários meses ensinando o jogo e as regras. O investimento financeiro foi relativamente alto já que nenhum deles possuía os times para jogar e também não tínhamos as mesas.
Cada um deles começou então a colaborar com um valor mensal para ajudar nas despesas.
Recentemente conseguimos comprar os times de botão para cada um deles. Foi uma grande conquista, pois, os times foram fabricados pelo Sr Lorival. Você pode imaginar a alegria da galera em poder jogar o futebol de mesa com botões profissionais produzidos pelo Sr Lorival? Foi muito legal ver a reação deles ao pegar seu primeiro time de botão profissional e jogar de igual pra igual.
Nossos campeonatos já estão pegando fogo. O grupo cresce a cada rodada. São várias as pessoas que estão chegando para conhecer o desconhecido futebol de mesa. Bem, desconhecido aqui em nossa meiga cidade. Alguns como disse, não sabiam nem pegar na palheta. Não conseguiam acertar dois toques consecutivos na bolinha. Chutar a gol e conseguir marcar era algo muito distante para a maioria. Quando acertavam os chutes e marcavam, a euforia tomava conta de todos, principalmente de mim. Cheguei a me alegrar muito em perder uma partida para alguns daqueles que foram meus alunos no futebol de mesa. Está aí uma derrota com verdadeiro sabor de vitória!
Pude ver a perseverança de cada um deles. Descobri em muitos deles a garra de um verdadeiro campeão. Pude ver também, grandes viradas de placar por jogadores que nunca haviam jogado futebol de mesa. Chamo a isto de superação original.
Fico encantado quando vejo gente que abraça uma causa e vai até o fim sem desistir, apesar das dificuldades e até da falta de talento próprio. Quanto a falta de estímulo e de vontade própria considero isto um grande problema e de difícil administração. Já a questão da falta de talento penso ser mais simples a solução.
O talento pode ser desenvolvido e aprimorado a cada dia através dos treinamentos. Acredito que qualquer um pode tornar-se muito bom naquilo que se deseja ser bom. É o caso da nossa galera que a cada rodada em nossos torneios ficam cada vez melhores.
Alguns da nossa equipe jogaram recentemente em Baurú com um pessoal de nível bem superior, ocasião em que conhecemos alguns irmãos nossos do botonismo. Nossa família é bem grande por esse imenso Brasil.
Realizamos vários jogos e perdemos de goleada em alguns. Mas escute isto: Um dos nossos atletas formado no Jabulani ficou em terceiro lugar na série bronze. O nome dele é Agnaldo. Palhetinha de ouro.
Para mim, o bronze que ele faturou é ouro, entende?
Penso que podemos ser melhores em tudo. Melhores pais; melhores filhos; melhores amigos; melhores cônjuges; melhores pessoas. Tudo é uma questão de focar os alvos e trabalhar arduamente para se obter a vitória. E sabe com quem aprendi isto, com meu Deus que nunca desistiu de mim, apesar de mim mesmo.
Dedico esta crônica a todos quantos puderem lê-la, mas especialmente para os heróis que hoje compõem o Jabulani futebol de mesa. Vocês são ótimos!